Dai-me a verdade...
"Mais que amor, dinheiro e fama, dai-me
a verdade.
Sentei-me a uma mesa onde a comida era
fina, os vinhos abundantes e o serviço impecável, mas onde faltavam sinceridade
e verdade, e com fome me fui embora do inóspito recinto. A hospitalidade era
fria como os sorvetes. Pensei que nem havia necessidade de gelo para
conservá-los. Gabaram-me a idade do vinho e a fama da safra, mas eu pensava num
vinho muito mais velho, mais novo e mais puro, de uma safra mais gloriosa, que
eles não tinham e nem sequer podiam comprar.
O estilo, a casa com o terreno em volta
e o entretenimento não representam nada para mim. Visitei o rei, mas ele
deixou-me à espera no vestíbulo, comportando-se como um homem incapaz de hospitalidade.
Na minha vizinhança havia um homem que
morava no oco de uma árvore e cujas maneiras eram régias. Teria feito bem
melhor visitando-o a ele.
Até quando nos sentaremos nós nos
nossos alpendres a praticar virtudes ociosas e bolorentas, que qualquer trabalho
tornaria descabidas? É como se alguém começasse o dia com paciência, contratasse
alguém para lhe sacar as batatas, e de tarde saísse para praticar a mansidão e
a caridade cristãs com bondade premeditada!"
(Walden - Thoreau )