quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Amor incondicional

O filme "A.I. Inteligência Artificial" fala de um mundo futuro, no qual robôs (Mecas) são criados para exercer atividades humanas e desempenhar atividades profissionais como babá, empregados domésticos e amantes profissionais. 
Um cientista ambicioso deseja aprimorar suas "criações", ampliando seus sentidos e emoções. Seu novo desfaio é fazê-los amar. Uma de suas assistentes então questiona: "Podemos fazer um robô amar um humano, mas será que os humanos conseguirão amá-lo?"
No filme, a resposta se mostra negativa. Na vida real, acho que não seria diferente.
O cientista cria um robô criança, com a aparência de seu filho morto e o entrega a uma família que tem um filho em coma. O menino-robô pensa ser só um menino.
A mãe que o ganha de presente do marido não o aceita de início, pois não quer um substituto para seu filhinho amado. Mas...acaba aceitando o presente.
Devagar, o menino-robô vai conquistando-a com sua doçura.
Mas... o filho real retorna e sente tudo aquilo que faz parte do repertório humano: ciúmes, inveja, raiva e começa a estimular o irmão-robô a ter comportamentos inadequados sem saber. O robô não foi programado para lidar com a maldade humana.
Diante destes comportamentos, os "pais" decidem levá-lo de volta à fábrica onde foi feito para ser desmontado. Ou seja, decidem jogá-lo fora. 
E, em meio a tantas aventuras e maldades pelas quais é obrigado a passar, o menino-robô segue dizendo que só quer encontrar a fada azul (da história do Pinóquio) para transformar-se em um menino real e, assim, ser amado por sua mãe. Ele também não foi programado para reconhecer a impossibilidade de amar de alguns humanos.
Filme lindo, com um final emocionante e muitas reflexões possíveis. Mas, para mim, o amor (ou a falta dele) mostra-se o ponto central.
É possível pensar que a rejeição à ele e falta de amor são justificadas por ser ele apenas uma máquina. Na vida real, com humanos reais, isso jamais aconteceria, não é? Não.
Infelizmente, humanos reais também sofrem de falta de amor. Mães reais, com filhos humanos, também são capazes de não amá-los, só não podem jogá-los fora (talvez fosse até melhor).
Recentemente uma pessoa me perguntou o que é esse amor condicional do qual falo, se é só beijar e abraçar mais. O que responder quando essa pergunta parte da única pessoa da minha vida que devia saber a resposta, desde sempre, naturalmente.
Talvez, como mostra o filme, seja difícil amar alguém encomendado, alguém que não veio de si, que não acumula pedaços daqueles que deviam amá-lo. Talvez o amor incondicional seja algo orgânico, que nasce junto com uma gestação. Será?
Achei no Google uma boa definição para a palavra incondicional: 
"Que não se sujeita (limita); que não está suscetível às condições ou circunstâncias externas; que não pode ser restringido ou limitado; irrestrito. 
Que se deve realizar (de modo obrigatório) em quaisquer situações ou circunstâncias: realização incondicional da tarefa."
Então, amor incondicional pode ser pensado como o amor que não se limita, não pode ser restringido ou restrito, que deve se realizar.
Simples não é?
Para mim soa como pleonasmo, já que amar envolve tudo isso, não é?
Talvez o amor romântico não seja assim, é verdade. Esse está sempre susceptível às tempestades da vida. 
Mas e o amor maternal, será que deve, obrigatoriamente, ser assim? 
Como mãe digo, sem pensar, que sim. Como filha, não sei responder.
No filme, o amor do menino-robô por sua mãe é tão incondicional que parece até ingênuo, bobo. Ao longo do filme, vamos pensando que ele precisa acordar e entender que não será amado nunca e ponto. Mas ele insiste em acreditar, em sonhar, em esperar.
No mundo real, onde cada dia vemos mais crianças abandonadas, violentadas, sendo usadas de todas as formas e sofrendo de todo tipo de falta de amor; fico pensando se haverá alguma fada azul para ajudá-las. Fico pensando até quando crianças (e adultos) serão privados de amor, esse algo tão simples, que deveria existir de monte, que não se gasta, que não tem valor, que todo mundo nasce com a capacidade de oferecê-lo. Ou não... 
Quanto à questão do amor incondicional, ainda não sei responder. Para mim, ele é algo tão natural que não pode ser explicado. Ele simplesmente é.
Mas, para tentar descrevê-lo, segue um trecho de uma mulher, escritora e mãe, que entre tantas belezas diz que tinha uma "ferida precoce de falta de amor" e sobre um de seus filhos: "Vou amá-lo - tal como ele for: não por sua beleza, nem por seu talento, nem por sua semelhança - pelo fato de ele existir" (Marina Tsvetáieva - Vivendo sob o fogo)


"Agora eu sei e digo a todos: não preciso de amor, preciso de compreensão. Isso, para mim, é o amor. Aquilo que chamam de amor (sacrifícios, fidelidade, ciúme) pode ficar para os outros, para uma outra - eu não preciso disso. Eu só posso amar um ser que, num dia de primavera, irá me preterir por uma bétula. esta é minha fórmula."



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