sábado, 14 de dezembro de 2013

Adeus 2013...

2013 poderia ser definido com duas palavras: rompimento e recomeço. Redundante isso, pois todo rompimento exige um recomeço, não é?
Existe uma frase clichê que diz que "quando se fecha uma porta, abre-se uma janela". Não sei... Acho mesmo que às vezes uma porta se fecha porque temos que sair daquele lugar, porque não cabemos mais ali, porque o lugar ficou pequeno. Porta é passagem para o mundo, janelas servem apenas para vê-lo de longe.
Enfim...
Meu ano foi de portas que se fecharam para que eu não voltasse a alguns lugares e outras que fechei quando saí de locais que já estavam apertados demais para mim. 

Família , uma instituição fechada, supostamente de proteção e acolhimento. Será?
No meu trabalho com crianças, vejo todo o tempo famílias opressoras, violentas, negligentes, ausentes ou simplesmente frágeis. Nenhuma delas "suficiente boa" para a formação de seus filhos, netos, sobrinhos, enteados.
Na minha vida pessoal, uma família estendida (tios, primos e agregados) capaz de coisas inimagináveis em nome de orgulho e tantas outras coisas que nunca compreendi.
Rompimento completo e necessário. Uma porta que fechou porque não caibo, nunca coube e não precisarei mais tentar caber ali, naquele espaço que sufoca, naqueles encontros teatrais e naquelas relações burocráticas.
Família mesmo só a nuclear, que é pequena, incompleta mas cheia de amor, como diria Lilo (Lilo & Stitch). Para essa, toda a gratidão do mundo, não só pelo amor incondicional que recebi, mas por ter sido escolhida para fazer parte dela. Como disse uma pessoa muito querida, recentemente: laços de alma são muito mais fortes do que aqueles de sangue. Sem dúvida...
Família são aquelas pessoas que nos escolhem e às quais escolhemos para amar, cuidar, conviver e ser-com. Sem teatro, sem obrigações,  apenas amor...
Após passar por esta porta, saindo do lugar estreito indo rumo ao amplo, encontro estes que caminham comigo: mãe, filho, amigos.... e minhas paixões: psicologia, livros, música, o mar e  minha amada solidão. 
A frase de Nietzsche nunca fez tanto sentido "Odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia.".

Sempre me lembrarei de 2013 como o ano no qual entendi porque nunca pertenci a alguns lugares e, principalmente, o ano no qual me dei ao direito de realmente não pertencer a eles.
Para encerrar, parte de um lindo texto de Clarice Lispector que sempre fez um misterioso sentido pra mim. Agora, este sentido foi des-coberto...

"Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou.
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a ninguém. Nasci de graça.
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora, como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo uma freira: ela pertence a Deus.
Exatamente porque é tão forte em mim a fome de me dar a algo ou a alguém, é que me tornei bastante arisca: tenho medo de revelar de quanto preciso e de como sou pobre. Sou, sim. Muito pobre. Só tenho um corpo e uma alma. E preciso de mais do que isso.
Com o tempo, sobretudo os últimos anos, perdi o jeito de ser gente. Não sei mais como se é. E uma espécie toda nova de "solidão de não pertencer" começou a me invadir como heras num muro.
Se meu desejo mais antigo é o de pertencer, por que então nunca fiz parte de clubes ou de associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se tornar patética. 
É como ficar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho com papel de presente os meus sentimentos.
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer para que minha força não seja inútil e fortifique uma pessoa ou uma coisa.
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai podiam controlar, eu nasci e fiquei apenas: nascida."

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial