sábado, 9 de julho de 2011

"Blue Valentine" - Amor e solidão...

"Blue Valentine" é o nome original de um filme MARAVILHOSO que assisti. O nome em português ficou “Namorados para sempre”. O pior título para definí-lo, pois é um filme onde o “para sempre”, definitivamente, não existe. Nem no amor, nem no desejo, nem mesmo nas promessas feitas pelos namorados do título.
Não é um filme para apaixonados, mas para aqueles que sabem (sentem) que amores acabam e que o tempo de um, não necessariamente, será o do outro.
Sou uma romântica assumida e acreditarei no amor sempre. Nos que já vivi (alguns, inesquecíveis) e nos que ainda podem acontecer. Mas, hoje sei que Vinicius de Moraes tinha razão quando escreveu que o amor não é imortal, mas infinito enquanto durar.
Posso falar isso porque vivi bons amores. Todos eles marcantes e infinitos enquanto duraram. Algumas vezes amei mais, outras amei menos. Uma única vez, amei exageradamente.
É bom poder sentir que a capacidade de amar é infinita. Acho que todo mundo tem que viver uma história de amor intensa, sem controle, sem razão, sem limites. Uma história que pode não ter um final feliz, mas será recheada de momentos inesquecíveis e inexplicáveis.
O filme trata deste tipo de história: um amor intenso e um final nada feliz. Mas, provavelmente, um final necessário. Acho que o erro de alguns relacionamentos é que as pessoas tentam colocar vírgulas onde deveriam existir pontos finais. A frase acaba perdendo o sentido...
Assim como no filme, na vida real é difícil ver um amor morrendo. Os envolvidos sempre tentam ressuscitá-lo, reanimá-lo. Mas, é possível devolver vida a algo que não tem mais um coração pulsando? Amor sem magia e brilho é somente companheirismo.
Acredito que existam alguns (poucos) amores eternos. Sou fruto de uma história de amor linda, que durou para sempre e todos os dias. Um amor tão grande que nem a morte conseguiu tirar o brilho.
Mas, nem sempre isso acontece. Vejo casais que fizeram promessas de amor eterno diante de um suposto representante de Deus ( que nada sabe sobre o amor romântico) e, somente por isso, permanecem unidos. O amor há muito já se foi.
Acho que as promessas feitas no momento da união (oficial) de um casal  deveriam terminar com a frase – “até que a vida os separe”. Acho que já vi isso em algum filme, um livro ou até em algum casamento real. Sei lá. Mas,poderia ser sempre assim...
Os filhos são para sempre. A família é para sempre. Alguns amigos são para sempre. O amor é até quando fizer sentido para os dois (duas existências singulares) envolvidos.
No filme, isso fica nítido. Dois universos singulares; com suas verdades, valores, desejos e limitações; vivendo momentos e amores diferentes, dentro de uma mesma relação.
Ela (Michelle Williams), uma mulher madura; responsável; querendo estabilidade. O seu tempo do amor e do desejo já passou. Ele (o lindo e encantador Ryan Gosling, com seu olhar sempre triste, que me lembra alguém que muito amei),  um eterno garotão, instável, sensível, que ama ser pai e marido. O seu tempo do amor está no auge, assim como seu desejo.
Como é impactante vê-lo sendo rejeitado. Como é intenso ver a frustração nos olhos dela. Não consegui escolher um culpado. Os dois pareciam vítimas.
O filme não esclarece esta dúvida (nem pretende). Não quer mostrar por que, exatamente, o amor acabou. Aliás, o filme trata do amor como deve ser, sem exatidão. Um amor sentido, vivido e pouco explicado.
A solidão??? Ela pode vir depois, isto é bem comum. Mas, muitas vezes, ela vem durante e eu diria que essa é a pior. Estar junto e, ao mesmo tempo, só, é muito dolorido. Estar-com sem se sentir acompanhado, é uma das piores formas de solidão.
A solidão do amor que acabou é aquela da saudade. Mas essa não é tão ruim. Ninguém está completamente sozinho se tem boas lembranças e histórias de amor para recordar.
Em defesa do amor, finalizo este texto com um trecho que li uma vez no chão da Praça da Língua no Museu da Língua Portuguesa e nunca mais me esqueci. Fala de amor de todos os tipos. Aqui  usarei para falar sobre o amor-romântico, o amor que sobra e falta no filme “Blue Valentine”.

"Só se pode viver perto de outro
e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio,
se a gente tem amor.
Qualquer amor já é um pouquinho de saúde,
um descanso na loucura"
(João Guimarães Rosa).