quinta-feira, 21 de abril de 2011

"MARY E MAX - UMA AMIZADE DIFERENTE"

Hoje assisti a este filme pela quinta vez...
Sou como criança: assisto ao mesmo filme diversas vezes, sem cansar. Fiz isso com "Casa de areia e névoa"; "Na natureza selvagem"; " O Fabuloso destino de Amélie Poulain"; "Onde vivem os monstros" entre outros.
Alguns colegas psicólogos (essa gente que analisa tudo) dizem que isso acontece para que algumas questões sejam elaboradas através dos conteúdos do filme. Pode ser...
"Mary e Max" me atrai pela forma como os temas solidão e amizade são desenhados (literalmente).
A história fala de duas pessoas fictícias (ou não), que apresentam diferenças marcantes em suas biografias e proximidades fundamentais em suas essências. Uma criança e um idoso. Uma australiana e um americano. Um homem com Síndrome de Asperger e uma menina que está começando a conhecer o mundo. Dois solitários, que não conseguem entender como o mundo funciona e por que as pessoas são como são.
Mary não entende por que o pai prefere ficar na companhia de animais mortos e entalhados a ficar com sua família. Max não entende por que as pessoas sujam as ruas; destróem as matas e são tão barulhentas.
As pessoas parecem assustadoras e incoerentes. Dizem coisas que não fazem. Evitam a verdade a todo custo. Não aceitam as diferenças. E ainda dizem que Max é que é louco.
Diante deste mundo insano, ele se isola.
Mary não parece ter escolha, o isolamente é o que resta.
Mas.... existe o encontro! O encontro....
Uma carta enviada, aleatoriamente, por Mary para Max dá início a uma bela e longa amizade.
Uma amizade virtual, mas COMPLETAMENTE diferente do que conhecemos nos nossos dias.
 E quantas emoções; angústias; inquietações e prazeres esta amizade vai suscitar...
Sartre dizia: “ O inferno são os outros”. Acredito. Mas, o paraíso também...
Mary e Max conhecem os dois lados do estar-com.
Os dois são atravessados por esta experiência.

“Mary e max” mostra que presença não pode ser sinônimo de atropelamento. Que acolher o outro não é o mesmo que encolher o outro. Que amar não é o mesmo que possuir. Que estar- com não é o mesmo que invadir.

E as cartas... Que lugar incrível elas ocupam nessa história!!!
Por isso, vou encerrar falando um pouco sobre a beleza desta forma antiga, ultrapassada e deliciosa de comunicação. 
Cito um trecho da BELÍSSIMA tese de Doutorado de uma professora muito querida:

“Percebo nas missivas (cartas) também um importante aspecto de interesse à Psicologia, sua capacidade de poder estar com o outro, e consigo mesmo, de modo peculiar. Para que uma carta cumpra seu destino, ela precisa de quem a escreva e a leia. Ela busca a cumplicidade do outro. Ao escrever, organizo idéias, sentimentos, emoções, comunico, compartilho e revivo uma história. Muitas vezes, transfiro um pedaço meu para que, por meio de um papel, vá até o outro, que recebe algo em que toquei, a expressão da caneta com a qual estive e um outro recebe a visita da minha caligrafia. Correspondências: um estar com, junto, que responde.”
(Melo FFS. Cartas: uma possibilidade para o ensino do pensamento fenomenológico. São Paulo: PUC/SP, 2008)