A minha canção...
" No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião
qualquer."
( Aniversário - Fernando Pessoa)
Nesta semana, foi tempo de festejar "o dia dos meus
anos". Mais um ano. Trinta e seis anos. Bons anos!
Nem sempre gosto de "aniversariar". Às vezes este
momento tem um gosto muito nostálgico. Às vezes a saudade de quem partiu impede
uma grande alegria. Às vezes, a falta de sinceridade dos que aqui estão a
impede ainda mais.
Mas, comemorando ou não, a vida passa. Um ano termina e outro
começa.
35, 36, 40, 50.... Não sei bem que diferença isso faz. A
experiência aumenta, a tolerância para algumas coisas diminui. As rugas surgem,
o peso aumenta, mas a liberdade sobre o próprio corpo e a compreensão do que é
realmente belo se expandem e renovam.
Enfim.... mudar de idade não muda absolutamente
nada.
Mas, acho que o aniversário pode ser um momento
de reflexão sim. Sabe aqueles momentos em que paramos para devanear sobre a própria
vida, perdas e ganhos; sonhos e projetos?
Talvez, um momento de aproximação do que sou, do
que não posso deixar de ser, da minha essência, da minha canção.
Um belo texto de Tolba Phanem fala sobre um tribo
africana, na qual cada ser que nasce recebe a sua canção. Esta canção é
lembrada em diversos momento da sua vida, principalmente, quando parece
afastar-se dela.
Vídeo com o texto "Canção dos homens"
Neste ano, decidi comemorar meu aniversário e
celebrar a minha canção. Parece pouco, mas muitos aniversários foram
necessários para que a minha canção fosse conhecida, compreendida, aceita e
celebrada por mim. Muitos encontros, muitas sessões de terapia, algumas
lágrimas e um tanto de coragem foram necessários para isso.
Algumas (poucas) pessoas conhecem bem esta
canção. Algumas até melhoraram a melodia ou acrescentaram trechos que eu nem
conhecia. Estas pessoas fundamentais sempre me lembram esta canção quando a
esqueço ou quando não consigo enxergar sua beleza.
Dentre elas, um amigo muito
amado e especial que conhece minha canção como poucos e há anos vem me
ajudando a lembrá-la, principalmente, quando só ouço ruídos.
Neste aniversário, fui presenteada com ela - a minha canção. E,
com a devida autorização do autor, a compartilho nesse espaço, invadida por uma
grande emoção:
" (...)Dizer sobre o que você significa em minha e na
vida de tantos que lhe são caros não é somente uma forma de agradecimento, mas
também uma maneira legítima de fazê-la lembrar de tudo o que você construiu
nesses intensos anos de vida.
Você é uma presença-amorosa-no-mundo.
Presença-amorosa-na-minha-vida. E esse amor está relacionado a algo que faz
crescer, é sinônimo de verdade na mais pura essência dessa palavra. Esse amor
está intimamente ligado à tudo o que sei sobre generosidade, liberdade e
compaixão, pois é dessa forma que você se lança na vida dos que lhe rodeiam,
sem tirar-lhes a oportunidade de crescer e se tornarem humanamente melhores.
Você é amor-poesia-em-mim... Ah, tudo aquilo que não conseguimos
traduzir, os Ernestos, Julianos, Clarices, Carlos, Merleaus, etc., fazem por
nós e você faz uso de suas inspirações, aspirando-os e devolvendo-os aos mundo
com pontualidade e leveza.
Você é amor-resposta. Não por que tem todas elas, mas porque faz
as perguntas certas para mostras que as respostas estão dentro e não fora.
Você é amor-alegria, pois seu humor escancarado e impaciente já me
rendeu gargalhadas que doeram a barriga.
Você é amor-indignação. Seu desejo de ser diferença diante das
mazelas do mundo é capaz de movimentar ou ao menos causar reflexão naqueles que
te cercam.
Você é amor-unimultiplicidade. Porque todas as
formas de amor cabem em você.
Feliz Novo Tempo, Amada. Essa forma de me referir à você – Amada –
não poderia ser mais pertinente. Que você possa contracenar na vida e com ela
de forma muito amorosa nesse novo espaço que se abre no tempo, a fim de
permitir que ela lhe retribua amorosamente, todas as formas de amor que você é."