domingo, 24 de julho de 2011

O mundo anda tão complicado...

Nesta última semana, aconteceram tantas coisas no mundo (e no meu mundo) que venho achando muito complicado entender tudo isso...
Para diminuir um pouco esta angústia, escrevo. Nas palavras de Clarice: "Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente, a minha própria vida."
Um paciente do grupo terapêutico que acompanho faleceu, provavelmente, por overdose. Concluíra a Faculdade de Letras e estava tentando sonhar com novas possibilidades. Não houve tempo para isso...
Outro, se desespera cada vez mais porque não consegue relacionar-se, não consegue estar-com. Seus delírios paranóides não permitem. Sente-se cada vez mais só. Sua mãe sofre, não entende o “poder” e o perigo de sua doença invisível. Eles brigam e ele lamenta que não pode abraçá-la. Ela chora...
Em um lugar bem distante, um jovem bonito, inteligente e cheio de vida comete um brutal e ininteligível atentado terrorista.
Uma cantora jovem, talentosa, que escreve letras poéticas que falam sobre as dores de tantos, morre. Uma morte anunciada, mas mesmo assim, impactante.
O que está acontecendo no mundo?
Às vezes acho que estes acontecimentos brutais existem para tirar as pessoas  do seu “confortável entorpecimento”. Acho que ficamos tão automatizados, hipnotizados, insensíveis, que precisamos da dor para acordarmos.
Como se não houvesse dor suficiente à nossa volta... Isso já deveria nos despertar, não?
Acho que não. Percebo que vamos ficando cristalizados, vamos naturalizando e banalizando estas “pequenas misérias” do dia-a-dia. Elas não são suficientes para diminuirmos o ritmo da nossa rotina, afinal, não podemos perder tempo nos preocupando com isso. Temos que produzir. Não perder o foco é essencial....Só as grandes violências prendem nosso olhar e causam alguma mobilização. (às vezes, nem essas)
Outro dia, vi uma cena que me confirmou essa sensação. Estava na fila do cinema de um Shopping e vi um menino sozinho na fila, sendo “pulado” por todos. Era como se ele fosse invisível. Ele estava mal vestido e com um odor que não era mesmo agradável. Mas, definitivamente, ele não era invisível. Como ele foi ficando para trás e acabou parando na minha frente, fiquei curiosa e perguntei o que ele fazia ali. Ele respondeu que queria ver “Transformers 3D”, mas faltava trinta centavos para comprar o ingresso. Me mostrou um bolo de moedinhas na sua mão.
Fiquei emocionada e encantada com aquele menino que escolheu juntar suas moedinhas para ver um filme. Com certeza, elas poderiam ter um outro destino.
Fomos ao caixa para comprar seu ingresso e a atendente se recusou a vender. Motivo: ele não tinha a idade para entrar sozinho no filme. Alguém acredita?
Depois de uma breve e exaltada discussão, indaguei que filme ele poderia assistir e ela sugeriu “Carros”. Ele aceitou. Ele só queria que fosse em 3D e dublado, pois não sabia ler.
O menino que não era invisível, que tinha até um nome – Vinícius e que quase não pôde entrar no cinema porque não tinha a aparência "adequada", assistiu o seu filme. Deve ter sido inesquecível para ele!
Assisti meu filme também (Meia-noite em Paris), mas não posso negar que meus pensamentos não se desgrudaram daquela situação. Como as pessoas podem ser tão cretinas? Como podem ignorar outro ser humano? Por que é tão fácil e simples realizar um desejo e as pessoas se recusam a fazer isso? Por que estão todos cada vez mais "umbigados"?
Não sou pessimista (embora pareça). Acredito demais no ser humano. A cada imbecil que vejo no mundo, encontro outros tantos que fazem minha esperança se renovar.
O que dizer daquela mulher na China que salvou um desconhecido do suicídio apenas beijando-o? E daqueles que largam suas vidas confortáveis para cuidar dos famintos da Somália? Ou de uma amiga com quem trabalhei (e muito me orgulho) que organiza grupos para lutar pelos direitos de adolescentes que estão sendo brutalmente atacados na Fundação Casa?
Tem muita gente fazendo o bem por aí... Não tenho a menor dúvida disso.
Quero acreditar naquela nova propaganda de um refrigerante que mostra, estatisticamente, que o bem ainda está ganhando. Mas.... não posso negar que está um pouco difícil nesse momento.

Quando vejo jovens perdendo a vida por causa das drogas e outros matando em nome do preconceito e da crença em uma superioridade inexistente, ainda me sinto angustiada.
Será que alguém não se sente???

Nestes momentos, tenho vontade de cantar ao mundo aquela música do Pink Floyd – Hey you, que me parece um chamado, um “tapa na cara” das pessoas insensíveis, que não ajudam, não tocam e, nem ao menos, conseguem enxergar um menino em uma fila de cinema. Cantar para que elas percebam que os pequenos gestos fazem diferença. Que um abraço ou um beijo podem salvar uma vida. Que ninguém é melhor do que ninguém e o preconceito nunca vai levar a nada....
Encerro com a última parte dessa belíssima música:
“ Hey you
  Don't tell me there's no hope at all
  Together we stand, divided we fall "

" Ei você,
Não me diga que não há mais nenhuma esperança
Juntos nós resistimos, separados nós caímos

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Nossa, estou sem fôlego ! Excelente desabafo, verbalizou o que acredito e penso.
Obrigada amiga.

25 de julho de 2011 às 12:54  

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